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Um pedido de desculpas... muito mal-amanhado...

Setúbal, Verão de 1982, 18h00.



Como todas as tarde estávamos à janela à espera que o avô chegasse do trabalho. Quando o avô apareceu não vinha com o sorriso de sempre e trazia os seus olhos de cor indefinida (acinzentados esverdeados) ainda mais abertos que o habitual.
Entrou em casa e disse:
- Vamos lá saber o que é que os meus meninos chamaram à Mónica?
(A Mónica, era uma menina que morava próximo da casa dos avós e que insistia em brincar connosco, chegava a ser, como é que hei-de dizer, um bocadinho aborrecida…).
Perante tal pergunta eu fiquei a olhar para o chão, enquanto o Alexandre com o ar mais natural deste mundo disse.
- Nada avô.
- Nada?! De certeza?! Não querem contar o que se passou?!
O silêncio estava instalado, na Rua do Forte.
- Pois bem, a mãe da Mónica acabou de falar comigo e ouvi uma coisa que me deixou muito triste.
- “Desculpe Sr. Hermenegildo, mas a minha filha ontem chegou a casa a chorar, porque os seus netos a chamaram piolhosa”.
- Isto é verdade?
O silêncio perdurava…na Rua do Forte.
- Pois bem, para que se saiba, hoje depois do jantar vamos os 3 a casa da Mónica pedir desculpas.
A sentença estava lida e sem direito a recurso.
Ainda tentámos que o jantar se prolongasse na esperança que o avô se esquecesse mas…
- Bem, ainda demoram muito? Eu já estou pronto. Acabem de jantar para irmos tratar daquele assunto.
Os nossos olhares cúmplices trocaram-se e pensámos: “O avô é de ideia fixas, ora bolas vamos mesmo que ir a casa da piolhosa.”
Antes de sairmos de casa, o avô como sempre, fez a inspecção às “tropas”.
- Ora bem, mãos e boca lavada, roupa limpa, cabelo penteado. Vamos a isso.
Lembro-me que o avô no seu passo apressado descia as escadas da ladeira e nós íamos ficando para trás…e o Alexandre sempre a resmungar.
- Não acredito que o avô nos obrigue a ir a casa da piolhosa, pedir-lhe desculpas…
- Boa noite, trouxe os meus netos para falaram com a vossa filha.
Um olá envergonhado saía das nossas bocas.
- Pois…desculpa…Mónica, nós viemos pedir desculpa por “aquilo” que te chamámos. Tu não és piolhosa (dizia o Alexandre, enquanto me piscava o olho em tom de troça).
- Oh! Sr. Hermenegildo, não era necessário os meninos virem cá pedir desculpa.
- É preciso sim, nunca ninguém lhes ensinou a chamar nomes a ninguém. Não gosto de crianças mal-educadas e não foi essa a educação que lhes demos.
Tipicamente com o rabinho entre as pernas lá saímos nós de casa da Mónica (piolhosa).
- Aprenderam? Que isto vos sirva de lição.
O avô nunca nos castigou nem nunca nos deu sequer uma palmada. Há maneira dele educou-nos e ensinou-nos a respeitar os outros.

Achei a tua história deliciosa...

Sei que o teu avô teve uma influência marcante na tua vida e na tua personalidade.
Tenho a certeza que era uma pessoa maravilhosa...

Aprendeste a lição, a mim nunca me chamaste piolhosa ou outra coisa que o valha, apesar de eu ás vezes merecer alguns adjectivos prejurativos! =)

Gosto de ti, tenho a certeza que estás cheia de bocadinhos do teu avô que te fazem ser assim!

(pequeno aparte...

no verão de 1982 eu era ainda um pequeno espermatozoide que vivia confortávelmente no lado esquerdo ou direito, e que mal sabia que em outubro viria a encetar a maravilhosa viagem da vinha vida...)

Adoro a foto da Dé e do Alexandre de olhar cúmplice!

Adoraria ter conhecido o teu avô, cujas histórias vou ouvindo e me fazem querer envelhecer com esse amor forte com que se rodeava.

Não vivi com ele, mas vivo com uma parte dele, que faz a minha vida ser cheia de alegria.

Obrigada por partilhares connosco os momentos marcantes da tua vida, que é também já um pouco nossa.

Até chamo o Sr. Hermenegildo de avô!

(Nês, só tenho uma coisa a dizer: perdeste uns inícios de anos 80 brilhantes! Miúda!)

O avô era assim, cheio de histórias. (Acho que se as juntasse todas faria um livro.)
Lembro-me que uma vez, pediu para lhe acertar um bocadinho do cabelo atrás.
Escusado será dizer, que resultou asneira, a Dé pegou na tesoura e lá vai disto.
Quando o avô olhou para o espelho disse.
- Só não te dou uma palmada porque já és crescida e porque eu é que te passei a tesoura para as mãos.

Não é fácil (d)escrever o carinho. Eu sei, às vezes também me custa pôr em palavras os afectos e os afagos.
Mas aqui conseguiste-o. Estou certo que lá dos céus, o teu avô te observa orgulhoso.

Muito bem.

graaaaannnnda aaavvvvôÔÔÔÔÔÔÔÔÔÔÔOOOOOoooooo

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